sexta-feira, 9 de novembro de 2007

CASTRO ALVES

Castro Alves era um show. Bonito, bem vestido, pintoso, articulado, viril, cabeleira basta e, suprema glória para sua época - poeta. Um verdadeiro pop-star. Aos 13 anos escreveu e declamou seus primeiros versos no colégio em que estudava. Foi um menino prodígio e prodígio em toda sua breve vida. Morreu aos 24 anos vítima da tuberculose e de uma gangrena no pé, motivada por um tiro de chumbos disparado acidentalmente por ele mesmo, quando caçava. Tentou formar-se advogado no Recife e em São Paulo, as duas únicas faculdades de direito que havia, então, no Brasil.. Não tinha vocação para mais nada que não fosse ser poeta. Escrevia e dizia versos da melhor qualidade, até de improviso, como fazem, hohe, os repentistas. Não raro levantava-se de sua poltrona nos teatros e compunha belas odes em louvor às mulheres que via no palco. Ou às causas que defendia, sobretudo a libertação dos escravos.

Apaixonou-se por uma atriz famosa aos 16 anos e tornou-se seu amante: a portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele e de pouca beleza. Mas sedutora, claro. Morou com ela no Recife, em Salvador, no Rio e em São Paulo, onde brigaram definitivamente. Foi morar em uma república de estudantes tendo Ruy Barbosa, como companheiro de quarto – dois baianos de vibrante inteligência. Era republicano e abolicionista ferrenho. Corajoso declamava poesias contra a escravidão para a elite paulista que enriquecia com o braço escravo. Um verdadeiro acinte. Imune a represálias pelo seu talento e magnetismo pessoal.

Onde quer que se apresentasse em publico, brilhava como um astro de intensa luminosidade. Ou como um herói romântico. Sem os recursos da tecnologia dos nossos dias, se valia do tinha como pessoa para brilhar: seu flamejante talento e cultura precoce. O povo, no recesso de um teatro ou numa praça pública (“a praça é do povo, como ´céu é do condor”, disse ele inflamado) delirava diante de seu porte altivo, sempre vestido de negro, como para acentuar a palidez do seu rosto – era moda ser pálido na sua época – que às vezes ele reforçava com pó de arroz e carmim nos lábios. Dizia seus versos patrióticos com voz alta e vibrante, assemelhando-se aos deuses, na avaliação de Ruy Barbosa que o sobreviveu por longos anos e que tinha talento semelhante , mas não a presença magnífica do poeta. Castro Alves foi a verdadeira encarnação de um herói vivo. Era seguido por um séqüito de admiradores que o carregava nos ombros e por mulheres apaixonadas. A muitas amou no arroubo de suas poesias e no fogo de suas paixões.

Nunca levou adiante um trabalho regular. Escrevia esporadicamente para jornais e publicou em vida apenas um livro. Nem gostava de estudar. Passava de ano nos cursos que freqüentava apenas com seu talento e sua loquacidade. . Viveu sempre das mesadas de seu pai médico e de sua madrasta que, ironicamente, enriquecera com o tráfico dos escravos que ele queria libertar.

Viveu sua breve vida como se fosse um vendaval maravilhoso. Queria libertar os escravos com o canhão dos seus versos e com eles proclamar a república brasileira. Não conseguiu, como sabemos. Mas plantou as sementes fecundas desses ideais com rimas que tinham a força de um exército. Foi chamado “o poeta dos escravos”. Castro Alves plasmou no imaginário popular a efígie dos poetas na figura de como um rapaz magro, de basta cabeleira ondulada, rosto pálido, olhos brilhantes, voz sonora, mãos largas e gestos amplos. Assim como foi ele mesmo, foi Antonio Frederico de Castro Alves, um poeta. E mais que isso um herói do povo no seu tempo e quem sabe de todos os tempos, neste Brasil de heróis tão vagos.