Aqui no ocidente uma das idéias de deus e seu séqüito de anjos e santos causou muitos estragos e polêmicas até que o furor dos togados se amoldasse aos padrões de liberdades que se formaram pela via das revoluções políticas e permitissem que cada um escolhesse a forma de deus que melhor lhes conviesse. Hoje temos o deus católico, o deus protestante, o deu umbandista, o deus do Edyr Macedo e da bispa Sônia, o deus tupi-guarani e o “ái meu deus” do povo que muita alma pacificadora diz ser sempre o mesmo em embalagens diferentes.
A maior pendenga religiosa dos nossos dias vem de saber quem criou o Universo e todo o trem de artefatos que ele contém. Ou se ele criou a si próprio. Duas anedotas resumem com certo humor essa pertinaz polêmica. .
Os evolucionistas argumentam que para um deus tão grande e poderoso é um desprestígio levar tanto tempo na obra da criação. E olha que forom bilhões de anos desde o Big Bang para que aquela primal poeira de estrelas resultasse na obra prima da natureza que somos nós - em extensão a humanidade - tão cheios de graça e de imperfeições. Tanto tempo para esse pífio resultado. Ou alguém pode imaginar que no conjunto somos seres definitivos e acabados? É só ler as manchetes do dia para ter certeza que não.
A revanche dos criacionistas vem da ingenuidade de se acreditar que a evolução seria como se um vendaval soprasse sobre um vasto monturo de ferro velho e uma vez amainada a procela, as peças tivessem se juntado de forma harmônica e produzido algo com um Boing reluzente e maravilhoso prontinho para levantar vôo. E que, enfim, voasse
Duvidar da existência de deus tem seus terrenos percalços. Mesmo sendo um incréu de meia pataca como eu. Lembro-me de um remoto entrevero que tive numa aula de religião com um padre que depois se tornou bispo de Bauru. Discursava ele sobre as teorias para se provar a existência de deus, quando na a hora errada e no lugar errado tive a bestificante idéia de perguntar (oh santa ingenuidade!) porque em vez de toda essa ginástica mental, “esse” deus miraculoso de que falava não aparecia com todos seus poderes ali na cátedra e resolvia a questão com sua espada flamejante. Simples, caro Watson. A resposta veio espumante, vociferante e tonitruante : “ora, rapaz, não vem assim como você imagina, porque Ele não quer!!!”. Este Ele tem que ser com maiúscula, tal a indignação do padre . Claro que num átimo percebi a insensatez da pergunta. Temendo conseqüências maiores a classe fez um silêncio sepulcral que ouço até hoje. O futuro bispo decidiu por deus naquele momento. Ele não quer, ora bolas Isso é a religião. Os homens falhos e mal acabados sempre querendo falar por deus.
Surpresa foi minha petulância não ter gerado nenhuma repercussão adversa. Ou teria sido esse um milagre de deus? Acabei professor dessa mesma faculdade que naquele dia patrocinava o curso de religião. Em outra ocasião perguntei ao Amin – sim, o nosso Amin que nunca quis ser bispo - se ele achava que o papa (do Vaticano) acreditava em deus. Estávamos na Cidade do México, em périplo educativo, e diante de um “quiosco de periódicos” que anunciavam a inacreditável morte repentina do papa João Paulo I, eleito 20 dias antes. Afinal os papas são homens sábios e ardilosos. E ele me retrucou de maneira também sábia e não menos ardilosa: “E você acha que o , Papa Jr (do Senac) , acredita em formação profissional?”. Pois é: não sei.