sexta-feira, 21 de setembro de 2007

OBTUARIES

“GOOD NIGHT, SWEET PRINCE, AND FLIGHTS OF ANGELS SING THEE TO THY REST”
Parece que vou me enveredar por um sendero funéreo. E vou mesmo. Pretendo, entretanto, pegar leve. Acontece que há alguns anos assino uma revista americana de cinema - dos tempos em que se era feliz e se morria em preto-e-branco - que traz um vasto obituário das pessoas ligadas ao cinema que faleceram aproximadamente no período de cada edição mensal. É morte para funerária nenhuma botar defeito. A revista se chama Classic Images e não é nenhum primor gráfico. Acostumei-me a ir direto a essas páginas para saber quem se foi desta vez e para sempre. Claro que os distintos defuntos mais famosos invadem os noticiários da “mídia” muito antes da revista vir a lume. Assim o necrológio da revista é meio requentado. Salvo no caso de nomes que lamberam a fama apenas de raspão, e outros que já se lambuzaram nela há muito tempo e hoje estão esquecidos. Mas a morte, muitas vezes, ´é que melhor explica a vida.

Não cultuo a morte a não ser a minha própria que vou adiando sempre que posso com a ajuda dos esculápios de plantão. Graças a eles, tão empertigados, com seus prateados estetoscópios no pescoço é que saltamos de uma média de 30 anos de vida para mais de setenta. Nem por isso os cemitérios com seus indefectíveis habitantes deixam de exercer um certo fascínio em mim. E de quebra a morte também.

Os cemitérios são a última morada de quem lá chegam, sem deixar de ser adoráveis pontos de atração turística, para aqueles que podem voltar, claro. Entre os mais visitados está o Pere-Lachaise de Paris, onde estão Chopin, Balzac, Abelardo e Eloísa, Edit Piaf, Oscar Wilde, Maria Callas e tantos outros nomes do nosso convívio cultural São um pouco nossos mortos também. Em Buenos Aires sempre se pergunta por La Ricoleta, onde está Evita Perón. No cemitério da Consolação estão a Marquesa de Santos, que faz milagres segundo alguns, e a atriz Iália Fausta. Cacilda Becker está no Araçá. Nossos mortos mais recentes, Ayrton Sena e Ellis Regina estão no Morumby... E la nave vá.

O cemitério de Hollywood tem o sugestivo nome de FOREVER. Equivalente, mais ou menos, ao nosso “Saudade” . Estive lá uma vez. Não vi tantos nomes famosos como esperava. Estes são mais numerosos na Calçada da Fama onde chegaram e saíram vivos. Muitos destes debandaram aos primeiros rugidos da velhice e foram morrer em outras plagas. Outros preferiram a cremação e suas cinzas vagueiam microscópicas pelas ondas do mar.

Impressionou-me, de dar um nó na garganta, a tumba de Tyrone Power. Quem viu seus filmes sabe que ele foi um homem despudoradamente bonito, porém, nunca fez pose de belo. Aceitou quase todos os papeis que lhe ofereceram. Tirou de letra a pecha de “galã” aplicado aos atores sem muito talento. Casou-se duas vezes. Teve filhos. Nunca se importou com os sussurros de que fosse homossexual. Flanava por sobre todas essas misérias humanas. Morreu ainda na maturidade sem chegar à velhice e trabalhando. Caiu em cena como se interpretasse o último papel de sua vida, tendo ao lado a bela Gina Lololobrigida. Por isso ganhou um epitáfio saído da pena de Shakespeare que ele não ousaria interpretar, mas que é um especial fotograma de sua alma. A sentença, que se lê no pórtico deste texto, está num inglês arcaico, e recomenda aos anjos esse memorável ator:

“BOA NOITE DOCE PRINCIPE E VOE ATÉ OS ANJOS QUE CANTAM PARA SEU REPOUSO”

- não é de chorar?
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