Há alguns anos gravei da TV o filme STROMBOLI que marcou a estréia da grande atriz Ingrid Bergman no cinema italiano, depois de ter abandonado estrepitosamente sua carreira em Hollywood. Esse detalhe não vem ao caso. Cada um casa com quem mais lhe apetece. E Ingrid deixou um casamento sereno para cair nos braços e um italianinho gordo, careca e (dizia-se) de muito talento, chamdo, todos sabem, Roberto Rosselini, na ´poca casado com outra grande estrela, essa italiana mesmo, Anna Magnani. Foi chumbo para todos os lados. As revistas de fofocas e outras nem tanto se esbaldaram. Logo depois do fim da 2ª. Grande Guerra o filme ROMA, CIDADE ABERTA, de Rosselini, abalou as estruturas do cinema americano pondo de lado o glamour dos estúdios e inundando as telas com o que se convencionou chamar de neo-realismo. Ou seja, uma nova maneira de mostrar a vida como ela é. Sem os maneirismos do cinema ameriano que, então, dominava o mundo Pegou.
Ingrid Bergman conta em sua biografia que ficou fascinada quando viu esse filme, levado despretensiosamente num cineminha de bairro de Los Angeles. Pensou logo que era seu dever de artista aderir a esse novo chamamento da arte cinematográfica. Enviou um telegrama ao diretor Rosselini onde dizia que se ele precisasse de uma atriz com sotaque sueco era só chamá-la que ela iria. Conta-se que quando o telegrama chegou ao seu destino, o escritório de Rosselini foi vitima de um pequeno incêndio e quase toda a papelada se perdeu. Como o destino escreve certo por linhas incertas, algum tempo depois o pequeno papelucho com a mensagem chegou ao conhecimento do diretor. Bem, resumindo a ópera tornaram-se amantes, casaram-se fizeram filmes e fizeram filhos. Hollywood perdeu sua grande estrela, bela, talentosa e fidelíssima esposa de um dentista que veio com ela de sua Suécia querida, quem sabe para reviver o mito de Greta Garbo. O que de certa forma reviveu.
STROMBOLI estava há anos na minha coleção do filmes gravados. Não sei bem, mas creio que por um certo desencanto com a atitude de Ingrid Bergman nunca tive vontade de ver o filme. Nem nos cinemas quando foi lançado aqui no Brasil, nem quanto passou na televisão. Já previa minha decepção. E não deu outra. O filme aqui para meus botões é uma droga. Não chega a lugar nenhum e tenta a todo tempo compor ângulos exploratórios com a rosto da ainda bela estrela, numa crassa imitação das belas fotografias americanas que sabiam como ninguém valorizar a beleza de suas estrelas.
Durante a evolução do pobre enredo de uma refugiada guerra (loira e sofisticada) que se casa por necessidade com um pescador italiano fiquei pensando no mau passo que deu Ingrid Bergman com essa mistura de amor e arte vindo a cair em dois sacos sem fundo: o próprio Rosselini e seu destino como atriz . Nenhum dos dois produziu outro sucesso igual àqueles que os fizeram amantes e esposos. Se o amor valeu a pena, então ta. Que belos filmes ainda teria feito ela se permanecesse nas mãos dos competentes e profissionais diretores americanos, bastando citar Hitchcock, entre tantos outros de igual quilate. Sua beleza continuaria sendo valorizada. Seu talento explorado, sua vida seguiria mansa e sem tropeças ao contrario do torvelinho em que se meteu nos braços do italiano gordinho e fazedor de filhos. Vendo Stromboli me ocorreu que no ano de seu lançamento surgiu aqui no Brasil a tentativa da Vera Cruz de fazer filmes com engenharia mais profissional. O primeiro filme dessa empresa, CAIÇARA foi, garanto, levemente inspirado em STROMBOLI, seja na história, seja em certas seqüências onde a ilha vulcânica da Itália e substituída pela natureza rude de uma ilha do litoral paulista na qual se passa o filme brasileiro. Ambos frutos do pacote pretensamente desmistificador do “realismo italiano” que noves fora teve lá seus méritos. Pelo menos sacudiu a arte de fazer cinema que nunca mais foi o mesmo.
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Nota. Tenho o filme Stromboli e de quebra Ciçara também. Se alguém quiser conferir esta e outras afirmações é só pedir. Meu “personal copietor” João terá prazer em enviar-lhes. Beijos.
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