sexta-feira, 21 de setembro de 2007

UMA DOR MUITO GRANDE


Não sei quantas vezes meu coração foi visitado pela tragédia. Nem sei se foi alguma vez. A fita métrica com que se medem as grandes e as pequenas dores são elásticas e sua matéria é o sentimento que não tem peso nem medida. A tragédia é única em cada coração. Nem para dois irmãos que choram a mesma perda são iguais.

Já tive grandes perdas. Nenhuma com a chancela da tragédia. Foram todas eventos da vida. Da minha vida. Certamente esses mesmos eventos marcaram outros corações com diferentes intensidades. Nunca senti o torpedo de um pranto lancinante. Nem sei se vou sentir um dia. Os sentimentos também são aprendidos com o beabá da infância. Por isso me espantei, com o meu espanto, quando li entre os e-mails que recebo diariamente um que se anunciava como “uma dor muito grande”. Era meu amigo Cláudio que foi tangido pela tragédia de ter um irmão no avião da GOL que se acidentou matando todos os passageiros. Desde esse momento passei a ver o noticiário do desastre pelos olhos do meu amigo. Foi a maneira pela qual a tragédia me atingiu. E atingiu de resvalo, mas frontalmente, quando para milhões de pessoas do Brasil e de outros paises apenas aguçou-lhes a curiosidade como aguçara a minha até então. Certamente houve aqueles que foram muito mais atingidos do que eu: os parentes, os conhecidos diretos...
O destino não tem regras nem caminhos. Vai criando sua lógica e sua trilha à medida que avança. Contabilizo essa desgraça como a primeira tragédia, digna desse nome, a me sangrar mais fortemente o coração. Por isso mesmo minha solidariedade ao Cláudio. Solidariedade que não ajuda em nada... quase nenhuma solidariedade ajuda alguma coisa, mas é ainda uma forma de sentir as tragédias que se abatem sobre o mundo das verdades e vão além do imaginário dos palcos shakespereanos... e de tantos outros que nos socorreram na busca do entendimento dos sentimentos humanos...

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